Tuesday, July 29, 2008

Festas na aldeia

No passado fim de semana, o feitor destes Prazos passeou-se (como vem já sendo um hábito) pelas bandas de Peniche - movendo-se, porém, mais por terras geraldinas e pelas praias da Consolação e Super Tubos do que propriamente na "cidade da península" (onde, apesar dos esforços da actual vereação, persiste o teimoso cheiro a peixe podre, a estrume e a pobreza). No entanto, desta feita, Peniche estava diferente: mais barrulhenta, mais festiva, mais animada by nigth. E não, tal não se devia apenas ao novel "parque verde" que, às portas da urbe, faz as delícias dos locais com os seus relvados e pistas de bicicleta, bem como com o barzinho que lá abriu. Nem tão-pouco se podia justificar todo este bruaa alegando que para isso muito contribuira o outro recente espaço público da terra: o deserto (ups! tenho de dizer Jardim Mediterrânico, pois aparentemente foi essa a intenção do Arquitecto que o gizou - embora tudo isto não deixe de me lembrar o velho conto dos Fatos do Imperador) que hoje se estende em torno do velho forte.

Na verdade, Peniche estava em festa - festa grada, alargada a grande parte das ruas, praças e vielas da cidade, demonstrando o quão interessados estavam todos (penicheiros e afins) em tomar parte nas celebrações, generosamente apadrinhadas pela sempre solícita autarquia local. Naturalmente, era impossível percorrer todos os inúmeros focos de interesse em que as festividades se distribuíam, ao longo do emaranhado urbano - sobretudo para quem acabara de sair de um jantar já tardio no mítico O Outro. Mas ainda nos deparámos com um ou outro momento de inegável interesse.

Lembramo-nos, designadamente, da animação nocturna da Rua Luís de Ataíde (a tortuosa artéria que rasga todo o casco antigo da cidade). Aí, perto do Stella Maris, se haviam montado barraquinhas típicas, onde gente com trajes provavelmente cedidos pelos ranchos locais vendia produtos (teoricamente) tradicionais. Ainda fomos espreitar umas compotas e conservas - mas não passavam de frascos comprados em grandes superfícies, aos quais tinham enfiado uma carapuça de papel recortado. Recorrer a complicadas e demoradas receitas tradicionais, para quê - se o Intermarché da esquina vende tudo já feito e embalado e a preços tão tentadores? Enfim, há que respeitar as opções de cada um...
Por dentre as barraquinhas, havia pequenos núcleos museológicos-etnográficos. Apenas conseguimos ver "A casa típica": três divisões escuras, miseravelmente mobiladas e com um fatal cheiro a mofo. Apesar de tudo, muito bem conseguido. Por incrível que hoje nos pareça, era naqueles autênticos buracos que a maioria da população local (e, claro, nacional) sobrevivia. Uma professora local das nossas relações ficou bem surpreendida por dois dos seus sobrinhos saberem de cor a ingénua rima de pé partido que se ostentava em todos os modestos lares beirãos:

"Vi minha mãe rezando
Aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
O que outra santa dizia!";)

Durante todas estas actividades, densa multidão acotovelava-se ao fundo da rua, junto a um palco improvisado (adornado, qual mostra do Estado Novo, com dois remos cruzados e três xailes pendurados), onde um homem (com voz de mulher - juro que pensei que fosse uma mulher, antes de o ver) uivava algo a que a enlevada assistência chamava fado.

Contudo, o momento alto da noite ainda estava para vir! Abandonando a Luís de Ataíde, rumámos à Praça do Município, onde logo nos deparámos com grossa massa de gente fitando interessada um palco montado aos pés das escadas da capitania. Uma local (soubemos mais tarde que era uma das responsáveis pela biblioteca da terra) enfiada num feio vestido verde apresentava, com algumas dificuldades, mais uma sessão do extraordinário

PENICHE MODA

Infelizmente, não fomos a tempo de assistir à passagem das colecções das renomadas Eva Pimentão e Ana Anastácio. Lamentamos profundamente - sendo que de concreto apenas sabemos que uma delas recorreu a um par de modelos sexagenárias (que vieram agradecer no final, acompanhadas pelos inoportunos comentários da apresentadora/bibliotecária: "Devagarinho, veja lá não caia"!) - pois adivinhamo-las extraordinárias.

Tivemos, assim, de nos contentar com a mostra de Rita Bonaparte. E, caros leitores, que mostra!

Bonaparte manifestou as suas predilecções: transparências, em tontas e mal conseguidas sugestões de " contido atrevimento" (sim, já passámos os anos 50, para considerar chocantes tais vestimentas!), e uma incompreensível obssessão por sapatos pretos.

Acompanhadas por uma banda sonora no mínimo péssima, os modelos tinham como tema os 4 elementos. Assim, meninas (mal) vestidas desciam a modesta escada vestidas, por exemplo, de "terra".

Dois momentos difíceis tiveram lugar na passagem das criações de Bonaparte. Por um lado, a primeira modelo era uma autêntica "filha do palco". Demorou MUITO mais tempo do que devia na passerelle improvisada, atrasando todas as companheiras e arruinando muito a sequência.
Por outro, uma das modelos CAIU - sim, CAIU MESMO pelas escadas. E não se tratou de um tropeçãozinho discreto e inocente. Foi mesmo uma queda, com direito a rebolar um pouco e tudo. Mas a rapariga teve uma rara presença de espírito. Esticou as mãos, lá conseguiu amparar a queda e interromper a trajectória, e, de sorriso nos lábios, prosseguiu.

Talvez por isso a reacção dos espectadores - se bem que boa parte deles deviam ser seus conhecidos - foi tão cordial, até simpática. Num primeiro momento, riram (pode ser resultado do susto/nervos). Depois, quando constataram que a queda era séria, ouviu-se um "OOHHHH" generalizado. Por fim, perante a enérgica e feliz reacção da modelo, aplaudiram.

Esse momento de solidariedade de alguma forma varreu da memória a péssima mostra de Rita Bonaparte!

Monday, July 28, 2008

tenebrosa notícia

Das profundezas do jornal "O Paiz", periódico conimbricense de oitocentos, fortemente politizado, encabeçado por Manuel Eduardo da Motta-Veiga e Eliziário Vaz-Preto Casal, retirámos esta bizarra notícia (nº 6, 1/3/866):

"DEDOS CORTADOS - Consta-nos que ha em Montemór-o-Velho uma mulher que se tem applicado a cortar dedos aos mancebos sujeitos ao recrutamento. É um momento em quanto a operação se conclue. Esperamos que as auctoridades locaes procurem descubrir a mulher que assim se presta a tão horrivel mutilação, para lhe ser applicado o castigo que merece."

O que faz o desespero!

Tuesday, July 22, 2008


Monday, July 21, 2008

A polémica das bolas

Quanta tinta - e, sobretudo, quanto palavreado - não tem corrido em torno das (já famosas) bolas que, no, cada vez mais popular, site GENEA, se vão apondo a seguir aos nomes que os pressurosos portugueses lá vão introduzindo! A ideia é simples (talvez seja por isso mesmo que o GENEA conheça um êxito inimaginável aquando dos seus tímidos primeiros passos, tendo-se tornado num negócio agradavelmente compensador): todos e cada um dos portugueses pode fazer a sua própria árvore genealogica, acrescentando os nomes dos seus avoengos e demais parentela na super-estrutura que o site fornece. Os serviços do GENEA asseguram uma dupla contrapartida:
1) por um lado, encarregam-se de fazer as conexões (claras e óbvias, pois, num site como este e num país vaidoso como o nosso, as intrujices e as "interpretações parciais e paralelas" sucedem-se em verdadeira catadupa) entre estirpes distintas - e "montadas" por pessoas distintas - que tenham um antepassado comum;

2) por outro - e, helas!, esse é o problema - decidem sobre a aposição das já citadas bolas. E bolas há de duas cores. Uma azul, mais comum, destinada aos descendentes de D. Afonso Henriques. Esta seria, na verdade, desnecessária, pois está suficientemente demonstrado e provado que todos nós, portugueses e não só, descendemos do dito personagem. A outra, mais rara, é (apropriadamente) dourada, e reservada para aqueles que demonstrem ter algum vínculo com a casa de Bragança.

Ora, esta medida "bolística", aparentemente inofensiva e de pouco interesse (eu acreditava piamente, a princípio, que ninguém iria prestar especial atenção a tais apêndices onomásticos) tem gerado paixões e fervores!!

Por um lado, há gente que faz quase tudo para alcançar uma bola - nem que seja uma das azuis, mais fracota. Aldraba ascendentes, troca avós, inventa bisavós, tudo... Prefere perder alguma dignidade no que a pesquisas deste género toca para ver o seu nome seguido de um mísero ponto azul. Se houvesse um negócio de "venda" de bolas, decerto se descobriria, aí, uma simpática fonte de rendimento paralelo.

Por outro, existem os que declararam "Guerra às Bolas". Achando-as pacóvias, vulgares (e vulgarizadas), ridículas e pretensiosas (e outras coisas mais, que não adianta aqui elencar), exigem o contrário: "Eu tenho bola, e não quero. Fora com a minha bola!".

Os corpos de gestão do site encontram-se entre estas duas paliçadas, sofrendo o constante bombardeamento de ambas. Uns querem o que não provam ter (apesar de, cientificamente, decerto o terem); outros não querem o que têm, e têm raiva a tal possessão.

Não será mais fácil terminar de vez com a política das bolas?;)

Monday, July 14, 2008

Ei-la


Quem compreende a CMC?

A Rainha Santa fez a sua visita bi-anual a Coimbra, deslocando-se, Monte da Saudade abaixo às costas dos talhantes de uma urbe da qual se diz que só dá primazia e precedências a "doutores", desde o "Japão" até à Lusa Atenas. Chegada à entrada da cidade, parou alguns minutos para ouvir o discurso através do qual a cidade lhe anunciava as suas boas-vindas. Se percebeu alguma das palavras proferidas, essa é já uma questão mais delicada, atendendo à péssima qualidade do som. Os "Senhora" estremecidos de Jesus Ramos desapareciam sob os cracks e crecks da fraquíssima instalação. Mas isto não foi o pior. A seguir à prédica, Coimbra gosta de se fazer luzir, perante a padroeira desterrada em terras nipónicas - a qual tem, cruelmente, de suportar, dois anos a fio, todos os dias mirar a cidade, e nunca lá se deslocar -, e perante os larguíssimos milhares que se acotovelam pelas velhas artérias e praças da Baixa. E, assim, ano após ano, tem lugar um fogo de artifício excelente. O ponto de honra é (bem, costuma ser...) apenas um: superar o do ano anterior.

Ora, o fogo de artifício deste ano não só demorou uns misérrimos 5 minutos (a média costuma ser 15, imaginem a desproporção), como foi de uma franciscana pobreza. Das alturas do Governo Civil, nós, que não temos o sentido político de alguns Cabrais que nos são próximos, sentimos claramente a muda decepção da multidão que rodeava o andor. No silêncio, gritava o desapontamento.

Era isto que Coimbra tinha para oferecer??

Mas o mais caricato foi que, no passado Sábado, à meia noite, perante uma assistência infinitamente inferior (nem comparar se pode), houve à beira rio um soberbo fogo de artifício.

Então... a CMC e a Comissão de Festas "só" trocaram os timings. Nada de excessivamente grave, como se calcula...

Abram o olho, srs do Largo de Sansão e das Comissões Festivas. Isto é inadmissivel! Coimbra, de agora em diante, só deve (não, atendendo ao seu actual prestígio junto do vulgo, só PODE) ter actuações notáveis e irrepreensíveis!

Esperemos que as coisas melhorem entretanto, e não apenas quando, daqui a uns anos, chegar Ni!;)

inveja de Monsanto!;)





Neste período de crise (não, não é crise, diz alguém que partilha o nome com um filósofo célebre, e que parece confundir aquela palavra com o conceito de "ruptura") em que o país se acha assolado por um incompreensível e patético saudosismo dos tempos que passaram, e toda a gente chora as mágoas de dias mais "imperiais" (por vezes não recordando já bem a vida naquelas épocas, que nos parecem loooonge) não queríamos deixar de contribuir com um par de comentários.


Olhem para esta linda foto! O que diria o António Ferro dela? "Muito portuguesa", certamente. Os pinheiros tão típicos, o verde que matiza (bom, a mancha de verdura já conheceu melhores dias entre nós...) o país, a garridice lusa e simples das singelas casinhas alvejando distantes... O ar de um dormente bucolismo. Quase ouvimos os grilos e as cigarras, dia e noite...


Pois, tudo é bonitinho... porque visto ao longe. Porque não se vêm alguns dos casinhotos miseráveis onde famílias locais habitam, sem um mínimo de condições. Porque não se vêm as estradas de terra. Porque não se vê a má-vontade de muita gente que por ali se passeia, e a inércia da maioria, que se arrasta durante os fim de semana entre a tasca e a horta.

O que se vê, nesta fotografia, é o Serrazim (o real, que deu o nome a estes Prazos cibernéticos), tal como estava no passado Sábado. Bonito, é verdade, mas sempre com vários problemas às costas.


Quando, daqui a uns anos largos, alguém voltar a pegar nesta fotografia(se houver quem o faça, evidentemente!), poderá pensar, alheada já dos problemas de hoje: "Como era tudo calmo, verde e até bonito. Como era bom que tudo continuasse assim agora".


Nostálgicos de memória curta, não confundamos as fotografias do passado com a realidade, ok?



Thursday, July 10, 2008

Malaca - o que foi e o que é





LUSOFONIA!

Engalanam-se os Prazos do Serrazim com os seus mais orientais (ou orientalizados) atavios. Fazem gala em exibir as suas colchas da India, cadeiras de Goa, caixinhas do Malabar, os seus cristos indo-portugueses e "gabinetes de curiosidades" do oriente. A Lusofonia celebra duas grandes vitórias:



1) a efectivação do acordo ortográfico, que procurará aproximar povos diferentes mas com um passado e língua em comum;



2) a elevação da célebre Fortaleza de Malaca - aquela que, no passado, foi apelidada A Formosa - à categoria de património da Humanidade, pela Unesco. Numa altura em que tantos clamam contra a destruição das marcas da presença portuguesa no Oriente (no que se destacam os brados de PauloVarela Gomes na sua coluna semanal do Publico), em que a identidade (ou, mais provavelmente, a ideia que dela havia e lá se projectava) lusa se esfarela nos areais da outrora mítica e dourada Goa, a consagração de Malaca é uma notícia no mínimo excelente.



Não se celebram as façanhas (para uns) ou atentados (para outros) de Albuquerque, as glórias (clamam uns) ou vergonhas (gritam outros) da passagem portuguesa por aqueles lugares.



Deve-se celebrar somente como é que um povo tão escasso, provindo de um país tão pequeno, conseguiu deixar levar-se pela curiosidade e a vontade de "ser mais" que, então, o devorava, e estabelecer contactos com terras e gentes tão diferentes.



Esta capacidade de se relacionar com o diferente, de perseguir os sonhos, de estabelecer metas e alcançá-las - e que não é exclusiva, de forma alguma, dos portugueses, e da qual, naturalmente, não partilhavam todos os portugueses do passado - é que deve ser lembrada e estimulada quando se olha a vetusta porta, sempre Formosa, da hoje mundialmente conceituada fortaleza de Malaca.

Wednesday, July 02, 2008

a NÃO ver!!

Caríssimos leitores que passais por estes cibernéticos pinheirais, permitam-me que vos dê um conselho cinematográfico. Sei que esse género de crítica não é comum nestes prazos, mas, no presente caso, mais do que salvar a vossa carteira de um alívio de cerca de 5 euros, quero salvar a vossa vida de um monumental (e extra, pelo que absolutamente desnecessário) tédio de 2 horas.

Não - repito, de forma enfática - NÃO vão ver o "My Blueberry Nights - O Sabor do Amor"!!

É uma película tenebrosamente CHATA, com uma história tão secante, tão secante, que os planaltos desérticos percorridos, em parte do filme, pelo jaguar da jogadora de poker que por lá aparece a páginas tantas, parecem de um extraordinário interesse. Foi ontem, seguindo a sugestão de um amigo que me exigiu absoluta confidencialidade no que à sua identificação concerne - sobretudo após termos visto o filme (o que atesta algum bom senso da parte dele, pois ser conotado com tal selecção não é propriamente um facto de que qualquer um se possa orgulhar) - que tive o prazer de contactar com esse monumento tão deprimente, tão anémico, tão atreito a provocar bocejos nas 5 pessoas que permaneceram na sala (sim, havia um 6º que, após ter devorado, ruidosamente, todas as pipocas que trouxera, abandonou a sala ainda na 1a parte).

A história é simples: Elizabeth é uma encantadora e tonta rapariga, que ama perdidamente um homem mau e perverso que a troca por outra. Ela (que fica a saber de tudo por um empregado de bar que não sabe manter a boca fechada) fica destroçada, pois não o consegue esquecer. Tenta deixar as chaves da casa do seu pérfido amante no café do simpático empregado de bar, onde passa a ir todas as noites, à hora do fecho. Come tarte de mirtilos, bebe café e fuma cigarros com o rapaz atrás do balcão, que se revela uma alma de poeta. Um belo dia, Elizabeth decide partir. Talvez (embora nada se diga sobre isso no filme) por já ter torrado todo o dinheiro que tinha, ou por ter sido despedida (passar todas as noites num bar não deve ajudar muito à manutenção do emrego). Decide, pois, ir "correr mundo" - ou, melhor, percorrer parte dos EUA. Abandona NY em detrimento das terras mais deprimentes, onde trabalhará nas mais piolhosas espeluncas e terá contacto com as mais inúteis das gentes. Aí começará a sua "história de vida", ao começar a conhecer melhor uma série de personagens muito estereotipadas, mas que afectam, cada uma delas, albergar profundos e originais dramas pessoais. E assim temos o polícia bêbado mas (lá no fundo, mesmo no fundo) boa pessoa, que se mata, a sua mulher louca mas também (lá no fundo, mesmo no fundo) melhor do que parece, a viciada no jogo que (lá no fundo, mesmo no fundo) igualmente se aproveita e tem um coração mais ou menos de ouro.

No fim, Elizabeth, rica de todas estas experiências, volta à sua cidade e à sua vida de antes, passando as noites no bar do seu amado Jeremy, para quem nunca deixara de enviar postais. Ele manteve sempre um lugar reservado à sua espera (ao balcão e no seu coração), e viu repetidamente as cassetes de vigilância em que ela aparecia. Ver as cassetes de vigilância que gravavam o que se passava no bar durante o dia era o entretenimento nocturno deste rapaz tão interessante... Fim da história... umas das piores de que há memória!;)