Tuesday, June 30, 2009

combinação improvavel?




catequizando na paragem (II)

Prosseguiu, depois, a persistente anciã, chamando, de forma inegavelmente ousada, à colação uma outra imagem que certamente faria parte do seu imaginário de fé.



"Sabes", persistia, doutrinando, "Jesus almoçava e jantava sempre com os seus amigos, numa enorme mesa, sempre coberta com uma toalha branca".

(Acredito que, neste momento, e caso estivesse a prestar um mínimo de atenção ao que lhe era dito, a criança visualizou uma larguíssima barraca de colmo e palmas, onde, em jeito de refeitório conventual, se estendia, longa e nívea, uma mesa albergando dezenas de pessoas).



A dada altura, porém, e constatando o desinteresse do ouvinte - que, entretanto, já lhe colara um "monstro" na carteira e preparava-se para fazer o mesmo aos seus óculos, deu nova guinada no seu raciocínio de conversão.



A criancinha, manisfestamente, demonstrava o mais óbvio tédio por "casinhas de palha" e "mesas com toalhas brancas" (não obstante o comprimento que tivessem). Havia, pois, que apelar a um argumento suficientemente forte e denso para não só captar a atenção desejada, como também para transmitir o que se desejava transmitir (o que era, ao certo, creio que ninguém sabe!).



Lembrou-se, então, a boa senhora de que todas as crianças gostam de animais. E, ancorada na forte esperança de que a intervenção de um ser animado neste deserto de cabanas e mobiliário iria atiçar a curiosidade do seu interlocutor, deixou para trás todos os episódios que até então evocara, para passar a falar de "S. João".



Ora, o leitor perguntará: qual? S. João Baptista, evidentemente. Mas não um S. João adulto e consciente, arauto da vinda do seu primo. Ao invés - e espelhando, desta forma, uma (que não deixa de ser curiosa, e até um pouco comovedora) forma muito portuguesmente popular de encarar tais personagens - falava de um S. João menino, que brincava sempre com o seu branco e manso cordeirinho.



Neste momento, lembrei-me de uma imagem de um S. João exactamente assim que outrora existiu na capela da VP. É extraordinário pensar que para aquela senhora de 70 anos S. João Baptista surgisse como uma criança loura, gorda e rosada, com um cordeiro tardo setecentista a segurar artisticamente uma bandeira!



O cordeirinho deste S. João Menino - continuava ela, perante o rapaz que se desvanecia olhando para os "monstros" - fazia uma série de acrobacias e malabarismos em prol dos outros, que o tornavam em simultâneo "muito santo" mas um pouco aborrecido.



A criança deve ter achado o mesmo, pois, olhando a avó (?) e interrompendo-a de repente, perguntou, de chofre: "Porque é que o S. João também não tinha um dinossauro brincar".



E agora, caros leitores, o que responderiam vocês?

Como introduziriam este elemento numa estratégia de conversão/ensinamento?



A velha senhora, contudo, que tinha vistas tão curtas e uma cultura tão pouco ginasticada, demonstrou uma impecável agudeza de espírito. Replicou prontamente:

"Mas, filho, é claro que o S. João tinha um dinossauro! Brincava com o carneirinho bonzinho em casa (numa palhota, perguntamo-nos??), mas, no quintal, e quando o cordeirinho estava a dormir, vinha a brincar com o dinossauro. E eram muito amigos!".



Não sei se a estratégia funcionou (duvido, até, seriamente da sua eficácia). Porém, a criança ficou muito mais interessada na narração.



E é bem provável que, nos céus indianos, o velho pregador Xavier não tenha conseguido evitar esboçar um sorriso perante tal estratagema desta sua tenaz seguidora! ;)


catequizando na paragem (I)

No passado Sábado, estava eu a regressar da feira das velharias (cada vez mais feira, mas com objectos à venda cada vez menos antigos) feliz com um postal dos anos 30 ostentando uma vista panorâmica de (uma irreconhecível!) Mapuçá, quando, à sombra da paragem e do refeitório de Sta Cruz, ouço uma extraordinária tentativa de evangelização moderna!

Uma senhora procurava incutir na cabeça do seu pequeno neto (?) (que teria talvez uns 5 anos - eu confesso ser terrível na calendarização de criancinhas abaixo dos 10!) algumas noções básicas de cultura católica. A senhora não percebia muito do que estava a falar; o neto não estava nada interessado na mensagem que a esforçada avó (?) lhe tentava transmitir.

O interesse da criança tinha sido conquistado mediante a oferta de uma espécie de gomas em forma de esquilos, raposas, etc - que avó(?) e neto logo consideraram (primeiro sinal bizarro!!) serem monstros (!!). As gomas "monstro" constituíam, no entender da catequista, um perfeito início de diálogo. Esta, vendo a criança brincar com os "monstro", respirou sonoramente, olhou em redor (ie, para a rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes e um pouco da rua da Sofia) e proferiu a primeira barbaridade:
"Olha, filho, tantas casas! No tempo do Jesus, não havia casas!".
A criança (talvez por não perceber porque é que os filmes do "tempo do Jesus" mostravam, apesar de tudo, casas, palácios, sinagogas e muralhas) olhou perplexo. A boa alma prosseguiu:
"Sim, no tempo do Jesus, as pessoas moravam em cabaninhas cobertas de folhas e palmeira".

Primeira pontada, primeira argolada!
Ou terá Jesus vivido em África, ou num palmar alheio nas "Novas Conquistas"??

regressando à normalidade

Caros leitores que passais por estas veredas Serrazinhescas: sensibilizado com as críticas (por vezes violentas) lançadas contra a estagnação que caracterizou a lavra das mesmas nestes últimos tempos, assumimos o compromisso de, de hoje em diante, as procurarmos tratar com redobrado interesse e empenho. Mesmo sendo época de Verão (e, por conseguinte, de especial preguiça para maior parte dos portugueses), mesmo sendo época de redacção da t--- (e, por conseguinte, de especial empenho para o caseiro destes Prazos).