Tuesday, January 20, 2009


A ameaça de Peixoto

José Luís Peixoto - que alguns dos "cérebros" deste nosso país cedo (prematuramente?) crismaram como uma das "luminárias da nova geração" - publicou, na viragem do ano, nas páginas da Visão (sim, sim... digam o que quiserem, eu leio a dita revista) um texto bizarro.

O visionário escritor, que a todos assombra com o facto de ouvir metal enquanto escreve, intitulou essa pérola "Esta juventude de hoje em dia". Tudo parecia muito certo para o grande público, claro está (e, sim, a Visão é destinada para essa massa mais ou menos indiferenciada de gente)! Quem melhor que este "apóstolo da juventude lusa" (que, apesar de tudo é tão bom rapaz e se preocupa tanto com os velhinhos dos lares e com a sua própria velhice, como li algures) para passar para o papel as ansiedades da sua "classe"? Tal como para os velhos artistas de sucesso (bom, há que ter em consideração a particular noção de "artista" e de "sucesso" em Portugal - e há que, forçosamente, incluir nas contagens a que nessa sede se procedam umas boas colheradas de insuportáveis "Revistas" e entediantes Festivais da Canção) se convoca Simone de Oliveira (se pretendermos passar uma perspectiva mais "louca") ou Ruy de Carvalho (o bom avôzinho, quase igual ao que mora no apartamento do lado), ou para as glórias desportivas de antanho se liga a Rosa Mota e Carlos Lopes, quando desejamos ouvir uma voz que traduza os anseios dos nossos conterrâneos mais novos invocamos Peixoto.

Note-se que, apesar de não enfileirar na hoste dos seguidores do rapaz, e de não gostar especialmente do que ele escreve - a minha aposta, ab initio, era mesmo Jacinto Lucas Pires (antes de ele se dedicar a tudo e acabar por nada fazer, claro está) - nada tenho de especial contra ele. É um escritor mais ou menos inócuo, a meu ver. Não faz ondas (mal geracional?), não me parece (pelo que eu li da sua lavra - e não li boa parte da obra que vai produzindo) nem especialmente inovador, nem especialmente secante, nem especialmente seguidor de um qualquer estilo, nem especialmente arrojado...

Também por isso não compreendi este texto que publicou na Visão- um artigo cheio de ódio, raiva, com desejos de surda indignação e vontade de retaliar (de forma cobarde, note-se) contra aquilo que definiu como "o inimigo": a geração anterior.

O artigo começa logo de forma insólita: "Quanto chegámos, aquilo que tinham para nos contar era uma história incompreensível que metia guerras coloniais, Salazares, emigrações
em massa e outras tragédias escolhidas com exemplar mau gosto. Além disso, havia também os vinte e cinco de Abril e os primeiros de Maio, que vocês insistiam em rodear de monossílabos e interjeições".

Ah! geração maldosa, a massacrar as cabeças tenras da sua prole com coisas tão complicadas! - e, ainda por cima, a divertir-se com isso:

"Então, para explicar o que tinham para nos oferecer, fizeram livros chatos, filmes ainda mais chatos e pouco mais"

(Peço desculpas ao autor, mas - mesmo que seja verdade - nós também, e em muitos menos anos, já conseguimos produzir uma quantidade simpática de textos secantes e de películas assustadoras)

Mas Peixoto prossegue:

"Depois, acusaram-nos de não entender. A culpa não era vossa. Não, nada diso. Vocês explicaram-nos tudo muito bem. A culpa era nossa, por aparecermos nos inquéritos de rua do telejornal a gaguejar, ou a dizer que o Marcello Caetano era um cantor brasileiro"

Alto lá, Peixoto! Esse plural está a deixar-me desconfortável: fala lá por ti e por quem quiser encarreirar atrás do teu pendão de vingança. Eu cá sempre soube muito bem o par de banalidades que acusas aquela que também é a minha geração de ignorar. E consigo arranjar muitos mais que, tal como eu, gaguejamos pouco e sabemos que, no Brasil, Marcello deu apenas (pelo menos, que se saiba) aulas de Direito!

A chacina prossegue. Para além de gozões, os "mais velhos" são também pouco solidários, tolerantes e compassivos:

"Vocês são sensíveis. Há assuntos acerca dos quais não podemos falar, são interditos."

Pois, Peixoto... quem acha que Marcello Caetano é um cantor tem de se aplicar um bocado mais antes de emitir uma opinião, certo? Até os meus alunos (que são caloiros e
que não escrevem para a Visão) sabem que se o fundamental é aprender a argumentar e entrar com prazer numa discussão animada (e fundamentada), há que, antes, ter o "trabalho de casa" bem preparado... para evitar o ridículo, as desgraças e as calinadas.

E, voltando à carga, agora por um ângulo diferente:

"Até porque, afinal, nós somos uns privilegiados. Não passámos por aquilo que vocês passaram. Vivemos neste mundo confortáve que vocês construíram pra nós. Sim, porque foram vocês que nos trouxeram pela mão a este lugar, com uma licenciatura, dezasseis anos de escola, podemos aspirar a dobrar camisolas na Zara, a arrumar livros na FNAC ou, fardados, a fugir dos clientes que procuram informações no IKEA. Com sorte, contrato de seis meses. Com sorte, estágio remunerado."

Peixoto, duas palavras apenas. Tens de estudar mais História do Direito. Os rapazes que, no século XVIII e XIX, acabavam o curso, estavam longe de se empregar logo imediatamente. Olha... nem é preciso tanto! Lembra-te do Gonçalo Mendes Ramires! Que oportunidades de trabalho tinha ele?
Por outro lado, é extraordinário o problema do "fardado". Qual é o problema de se usar uma farda? O que ganho ou perco com isso? Numa idade de grupos e de núcleos de gente que se identifica (também) pela forma de vestir (e tu, nisso, estás longe de ser excepção), não usaremos todos (ou, pelo menos, boa parte de nós) uma espécie de farda?

Mas o mais intrigante - e preocupante - é, creio, o seguinte excerto:

"Aproveitem agora para se divertir. Vão passar muito tempo sem possibilidade de resposta. Quando chegámos, vocês já cá estavam, por isso, devem saber muito acerca do tempo e da sua duração. Se é assim, talvez já tenham reparado que o tempo é rápido, constante e inequívoco no seu curso. Falta pouco para o momento em que vocês se vão embora. E, quando forem, não voltam. Espero não estar a dar-vos nenhuma novidade. Quando chegar esse definitivo, quando se forem embora, seremos nós os guardiões da vossa memória. Então, abandonaremos ainda mais aquilo que vocês não nos souberam transmitir e, quanto a vocês, quanto aos vossos reflexos nos espelhos, serão apenas aquilo que nós decidirmos. Os vossos audis e mercedes a duzentos na auto-estrada não vos servirão de nada, os vossos fatos irão para o lixo, as vossas estátuas cairão em poucos minutos e os vossos livros serão comidos pelos bichos. Poderá então acontecer que, por comum acaso, nos esqueçamos de vós, que aquilo que vocês são agora se transforme em nada."

Deus meu! Peixoto, aqui acabaste por perder todo e qualquer pingo de razão que, eventualmente, te restasse.
Em qualquer civilização, em qualquer época, duas coisas foram sempre condenadas:
1) não esperar para se vingar quando o adversário está inevitavelmente enfraquecido (luta-se, pelo menos num mundo ideal, em igualdade de circunstâncias)
2) não atacar pelas costas, de forma dissimulada e fazendo chantagem.

Por isso, aqui digo: alto lá! Não sei que geração o autor pretende representar. Mas, atendendo a estas últimas linhas, creio firmemente que a minha NÃO É! Quando queremos uma coisa, vamos à luta - cara a cara. Não nos escondemos no canto escuro das angústias e das vis vinganças à espera.

Aqui chegados, podemos perguntar: mas o que é isto? Que tipo de texto é este? Como reagir perante tal coisa?
Há várias hipóteses:
1) Corar e chorar de vergonha por este homem ser tido como um dos nossos "arautos". Este homem que nos descreve como uns ignorantes preguiçosos que não sabemos encarreirar a nossa vida;
2) Rir, rir, rir deste texto de um rapaz que, abandonando a rural pasmaceira em que nasceu e se fez, agora vive na Avenida de Roma dos textos que escreve;
3) Ignorar, e esperar que o texto em questão cedo caia no esquecimento, e que Peixoto se dedique à escrita de páginas mais inspiradas;
4) Promover um movimento de identificação da juventude com o retrato que está aqui traçado - mas desta hipótese eu me descarto desde já!
5) Ou tentar perceber, argumentar - essas coisas boas e divertidas e estimulantes que a escola nos ensinou e que a experiência e a vida refinaram. E olhar com apenas a necessária simpatia para este rapaz da nossa geração, relembrando-lhe o final de um livro que ele devia ter lido (pois, também é uma marca geracional): no final do seu magnífico "Ética para um jovem", o pai/autor despede-se de Amador com um conselho retirado de uma fantástica citação de Sthendal:

"Adeus, leitor amigo; tenta não gastares a tua vida a odiar e a ter medo"

Pois é, Peixoto - e é esta a filosofia que espero que a minha (a nossa) geração siga. Não obstante os problemas que se no colocam, ou os manifestos de rancoroso desânimo... como esse teu texto!

Wednesday, January 07, 2009

Terra inteligente!!! LOL


Quem sabe, sabe!

Em Goa, na velha e célebre Igreja dos Reis Magos (não longe do famoso Forte com o mesmo nome e a uns breves quilómetros de Britona city) celebra-se, cada ano, a epifania. Há que convir que é um excelente dia para festejos e comemorações!!!;)