Prazos do Serrazim
Friday, April 27, 2007
estranhas empatias, bizarras gentes
Estava hoje LCO em demanda de um livro desse irritante Agostinho da Silva que agora todos se ufanam em citar (e que em seu abono tem apenas a sua inegável vertente lusófona) - incumbência de sua mana, para um bioquímico actor em Londres - quando, em desespero de causa (não, não se achou o livro, edição da Universidade de Salvador da Bahia...) entrou naquele alfarrabista que todos conhecem, por ser a seguir a Sta Catarina (Combro, portanto), e praticar preços ligeiramente inflacionados!;)
Pois bem, esperava LCO para ser atendido - e ouvir um (amável, porém) esperado "lamentamos muito, mas não dispomos da obra" - quando repara numa desgraçada qualquer que, apesar de um certo ar de "tia", se esforçava por vender um velho cartapácio jurídico. Ora, antigualhas jurídicas (mesmo que sejam do sec. XVIII, como a em questão) pura e simplesmente não têm muitos compradores - ainda mais se se tratar de um exemplar em mau estado de um Tratado prático de orfanologia (ou qualquer coisa assim).
Deste modo, ficou - coitada! - a senhora privada da sua venda (esperemos, sinceramente, que o dinheiro desse modo obtido não lhe faça muita falta).
Estava também na loja, enfiado no seu blazer e no ridículo lencinho de seda grená que lhe aconchegava o pescoço, um medíocre aguarelista da capital (a imagem anexa é elucidativa, creio - ah! para os que não perceberem, aquilo é mesmo a Encarnação!), casado com uma "rainha" do , jet-set local. Pois bem, o irritante personagem, ostentando na mão três gordas notas de 20 euros com que queria comprar uma coisa qualquer (não o velho tratado de orfanologia, contudo), dignou-se a, durante uns momentos, chagar a pobre da vendedora frustrada, tentando demonstrar-lhe que não conseguia ler obras impressas de setecentos!
Tamanha sabedoria do notável aguarelista, que simpatizou com a infeliz alienante em potência! Oh cultura transcendental desta gente, que nos faz parecer tão ignorantes!;)
Sim, porque, do alto do seu baixo saber, a parda notabilidade explicou, aos que quiseram ouvir - e, asseguro, valeu a pena, para aferir o baixo quilate do palestrante - que os dois esses por vezes se escreviam em forma de f!
Extraordinário!;)
Incrível!
Quem diria??
Por fim, a enfiada senhora lá conseguiu abalar, de tratado debaixo do braço, decerto maldizendo a sua sorte e, quiçá, pensando que, no magnífico Chiado, há gente MUITO estranha. E, provavelmente, não se estaria a referir aos mendigos que, fazendo malabarismos, pedem uma moeda, ou ao bizarro homem dos cães brancos, que entoa a Grandola à porta do Paris em Lisboa!;)