DESCULPE, MAS...
Terminado
o intermezzo oriental e ultrapassadas
as principais festividades pascais – este ano muito húmidas, negando-nos o
prazer de escondermos ovos no jardim para a Zabi os procurar – é tempo de
retornar à normalidade. E, para mim, fazê-lo passa também por retomar alguns
velhos hábitos e práticas leirienses, postos de parte durante estas últimas
semanas. Voltar pisar (por vezes com fúria, depois de um ponto estupidamente alienado
pelo péssimo perdedor que sou…) os courts
do CETL, a ir tomar café e comprar pães brasileiros
ao sítio do costume, a rever a Pilar de Los Libros com a sua conversa fácil,
um tanto incoerente e divertida (que anima qualquer neura histórico-jurídica e
garante a descompressão necessária após a correção de um maço de provas) – onde
comprar o “Público” nunca é uma experiência igual à do dia anterior –,
reencontrar Dona Gina na sua frutaria digna de Almodóvar e recheada de produtos
interessantes (“Mas o senhor leva sempre
a mesma coisa!” – lamenta-se a proprietária, desfiando o já velho e
conhecido rosário das compras semanais “Tomates,
por vezes um pepino, pêras, maçãs e laranjas para fazer sumo!”), passear
pelas livrarias da terra, reabastecer o stock
de raivas e outros biscoitos quejandos junto do Vasco das ditas (raivas), queixar-me
das minhas maleitas na farmácia Sanches, ir cheirar as cada vez mais surradas
velharias da loja que foi da D. Adélia… e passar pela biblioteca municipal. Gosto
particularmente da biblioteca desta terra, que é pequena mas dinâmica, com um
grupo de funcionários que, sem ser especialmente trabalhador, demonstra gostar
do que faz, é solícito e despachado q.b. e, a partir de determinada altura, já
quase nos trata como velhos conhecidos. Para mais, o fundo disponível é
surpreendentemente bom – o que, como me comprometi solenemente, nestes tempos
de crise tremenda em que todos temos de apertar o cinto vários furos abaixo do
que estávamos acostumados, a reduzir o volume de livros comprados por mês, se
tem vindo a revelar uma surpreendente ajuda no sempre difícil desincentivo de
adquirir só mais aquele volume,
porque parece ser tão interessante, e
tão útil, e depois vai desaparecer e
eu nunca mais o vejo, sobretudo quando já tiver euros suficientes na carteira
para voltar a pensar em tal coisa.
Ora,
se alguém – com muito pouco com que se entreter, admita-se – se dedicasse a
pesquisar as obras que vou requisitando na dita biblioteca, poderia ficar um
pouco confuso. Não há, na verdade (forçoso é admiti-lo) um fio condutor: tão
depressa levo um manual de missionologia do padre Silva Rego como romances do
Camilo (continuam a ser um excelente antídoto contra o stress e os momentos de
alguma angústia que a todos assaltam), tudo à mistura com os inevitáveis livros
em torno das três letrinhas apenas que
me obcecam (G-O-A!), com reedições do Lopes Vieira, histórias da literatura,
monografias sobre Macau, e sei lá eu mais o quê. Uma enorme confusão com que
gosto de encher as noites chuvosas desta terra chuvosa. Por assim ser, quando,
há um par de dias, recém-chegado da Índia, bem-disposto com o mundo e já com
saudades das minhas aulas e das minhas “crianças”, em pleno processo de retoma
dos tais hábitos leirienses e a propósito da requisição de uma revista qualquer
sobre Macau, tive de indicar o ano do meu nascimento (1978), não estranhei
DEMASIADO ao ser confrontado com esta pergunta, por parte da funcionária:
- Desculpe… mas tem
mesmo 35 anos?
- Como disse?
- Peço desculpa, mas
nasceu realmente em 1978? Tem MESMO 35 anos?
- Sim…
respondi, procurando dar outro rumo à conversa: É um belo ano, não é?
- Eu peço realmente
muitas desculpas – repetia a rapariga – mas ninguém diria!
Foi
nesta altura que a vaidade me subiu um pouquinho à cabeça, com os resultados
catastróficos que sucedem sempre que alguém se deixa inebriar por ela. Aaha – pensei, estupidamente – aposto que vais dizer que ninguém me dá
essa idade, e que é incrível eu ler o que leio sendo tão novo, e interrogar-te como
é que sou assim tão extraordinariamente brilhante etc etc…Vãs ilusões,
caros leitores destes Prazos, vãs
ilusões… A resposta não tardou, e foi dura como um balde cheio das mais gélidas
águas do Lis:
- É que eu NUNCA diria!
Então tem a minha idade! Eu também nasci em 78… e imaginava que o senhor era
MUITO mais velho!
SPLASH!!!
na minha pobre cabeça! E novo SPLASH!! – de águas frígidas, mas agora do Lena –
ao pensar que a bibliotecária, apesar de ser uma rapariga simpaticíssima é (e
juro que é verdade; não se trata do despeito a falar, nem de qualquer indício
de demência senil precoce!) vesga, de dentes tortos, ar de geek e tem várias dezenas de quilos a mais do que devia. Ah! E
naquele dia usava um PONCHO!
Pois,
Luís, pois… SPLASH!!!
2 Comments:
ahahah é a ausência de bochechas que te dá um ar mais velho :D
ahahah! E que balde de água fria.
Caro primo, acho que na cabeça da menina não existem estudiosos de 35 anos, ela se calhar acha que bibliotecas é só para "velhos"... deve ser isso...
Ps. depois de ler o teu post fiquei com vontade de ir dar um saltinho a biblioteca de cá e quiça requisitar um livro ou dois. ;)
beijinhos*
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