Monday, April 08, 2013

DESCULPE, MAS...


Terminado o intermezzo oriental e ultrapassadas as principais festividades pascais – este ano muito húmidas, negando-nos o prazer de escondermos ovos no jardim para a Zabi os procurar – é tempo de retornar à normalidade. E, para mim, fazê-lo passa também por retomar alguns velhos hábitos e práticas leirienses, postos de parte durante estas últimas semanas. Voltar pisar (por vezes com fúria, depois de um ponto estupidamente alienado pelo péssimo perdedor que sou…) os courts do CETL, a ir tomar café e comprar pães brasileiros ao sítio do costume, a rever a Pilar de Los Libros com a sua conversa fácil, um tanto incoerente e divertida (que anima qualquer neura histórico-jurídica e garante a descompressão necessária após a correção de um maço de provas) – onde comprar o “Público” nunca é uma experiência igual à do dia anterior –, reencontrar Dona Gina na sua frutaria digna de Almodóvar e recheada de produtos interessantes (“Mas o senhor leva sempre a mesma coisa!” – lamenta-se a proprietária, desfiando o já velho e conhecido rosário das compras semanais “Tomates, por vezes um pepino, pêras, maçãs e laranjas para fazer sumo!”), passear pelas livrarias da terra, reabastecer o stock de raivas e outros biscoitos quejandos junto do Vasco das ditas (raivas), queixar-me das minhas maleitas na farmácia Sanches, ir cheirar as cada vez mais surradas velharias da loja que foi da D. Adélia… e passar pela biblioteca municipal. Gosto particularmente da biblioteca desta terra, que é pequena mas dinâmica, com um grupo de funcionários que, sem ser especialmente trabalhador, demonstra gostar do que faz, é solícito e despachado q.b. e, a partir de determinada altura, já quase nos trata como velhos conhecidos. Para mais, o fundo disponível é surpreendentemente bom – o que, como me comprometi solenemente, nestes tempos de crise tremenda em que todos temos de apertar o cinto vários furos abaixo do que estávamos acostumados, a reduzir o volume de livros comprados por mês, se tem vindo a revelar uma surpreendente ajuda no sempre difícil desincentivo de adquirir só mais aquele volume, porque parece ser tão interessante, e tão útil, e depois vai desaparecer e eu nunca mais o vejo, sobretudo quando já tiver euros suficientes na carteira para voltar a pensar em tal coisa.
Ora, se alguém – com muito pouco com que se entreter, admita-se – se dedicasse a pesquisar as obras que vou requisitando na dita biblioteca, poderia ficar um pouco confuso. Não há, na verdade (forçoso é admiti-lo) um fio condutor: tão depressa levo um manual de missionologia do padre Silva Rego como romances do Camilo (continuam a ser um excelente antídoto contra o stress e os momentos de alguma angústia que a todos assaltam), tudo à mistura com os inevitáveis livros em torno das três letrinhas apenas que me obcecam (G-O-A!), com reedições do Lopes Vieira, histórias da literatura, monografias sobre Macau, e sei lá eu mais o quê. Uma enorme confusão com que gosto de encher as noites chuvosas desta terra chuvosa. Por assim ser, quando, há um par de dias, recém-chegado da Índia, bem-disposto com o mundo e já com saudades das minhas aulas e das minhas “crianças”, em pleno processo de retoma dos tais hábitos leirienses e a propósito da requisição de uma revista qualquer sobre Macau, tive de indicar o ano do meu nascimento (1978), não estranhei DEMASIADO ao ser confrontado com esta pergunta, por parte da funcionária:
- Desculpe… mas tem mesmo 35 anos?
- Como disse?
- Peço desculpa, mas nasceu realmente em 1978? Tem MESMO 35 anos?
- Sim… respondi, procurando dar outro rumo à conversa: É um belo ano, não é?
- Eu peço realmente muitas desculpas – repetia a rapariga – mas ninguém diria!
Foi nesta altura que a vaidade me subiu um pouquinho à cabeça, com os resultados catastróficos que sucedem sempre que alguém se deixa inebriar por ela. Aaha – pensei, estupidamente – aposto que vais dizer que ninguém me dá essa idade, e que é incrível eu ler o que leio sendo tão novo, e interrogar-te como é que sou assim tão extraordinariamente brilhante etc etc…Vãs ilusões, caros leitores destes Prazos, vãs ilusões… A resposta não tardou, e foi dura como um balde cheio das mais gélidas águas do Lis:
- É que eu NUNCA diria! Então tem a minha idade! Eu também nasci em 78… e imaginava que o senhor era MUITO mais velho!
SPLASH!!! na minha pobre cabeça! E novo SPLASH!! – de águas frígidas, mas agora do Lena – ao pensar que a bibliotecária, apesar de ser uma rapariga simpaticíssima é (e juro que é verdade; não se trata do despeito a falar, nem de qualquer indício de demência senil precoce!) vesga, de dentes tortos, ar de geek e tem várias dezenas de quilos a mais do que devia. Ah! E naquele dia usava um PONCHO!
Pois, Luís, pois… SPLASH!!!


2 Comments:

At 4:32 AM, Blogger Joanight said...

ahahah é a ausência de bochechas que te dá um ar mais velho :D

 
At 1:32 AM, Blogger Maggie said...

ahahah! E que balde de água fria.
Caro primo, acho que na cabeça da menina não existem estudiosos de 35 anos, ela se calhar acha que bibliotecas é só para "velhos"... deve ser isso...

Ps. depois de ler o teu post fiquei com vontade de ir dar um saltinho a biblioteca de cá e quiça requisitar um livro ou dois. ;)

beijinhos*

 

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