Nuno de Santa Maria
O Beato Nuno Álvares Pereira - ou, no final da sua vida, após ter recolhido ao seu Carmo, Nuno de Santa Maria (ou ainda, para os saudosistas de tempos que não voltam, suspirando pelas paradas da MP, o Santo Condestável) - foi hoje canonizado. Muitos foram os que acorreram ao Vaticano (independentemente da fé de todos os que quiseram presenciar o momento, qualquer motivo é excelente justificação para uma ida a Roma), e muitos foram os que criticaram tal afluência.
Assim, ao som de aplausos e apupos, Portugal conta com mais um santo. Sobre este assunto, creio que duas palavras se podem dizer. Por um lado, lamentar o ridículo do milagre suplementar alegado para se proceder à canonização (é bem conhecida a lógica: 1 milagre=beato, 2= santo). Não seria melhor referir o que de excepcional teve o dito cavaleiro? Sanguinário? Decerto!Obstinado até à obsessão? Concerteza!Enredado num misticismo profundo que lhe servia de justificativa e esteio? Naturalmente! Uma personalidade complicada e difícil? Seguramente! Mas um homem de convicções (acertadas ou erradas, isso não é para aqui chamado - cada um acredita no que quer) firmes, alguém que prosseguia resolutamente os seus fins! Isso - creio - merece o respeito de qualquer um de nós.
Em segundo lugar, divulgou-se largamente que Nuno de Santa Maria seria apenas o 7º santo nacional! SÉTIMO? QUE MISÉRIA! É quase um por século - é mais do que escasso, é vergonhoso!
E como andamos iludidos no nosso dia-a-dia. Apesar de (também) termos carência de compatriotas que usufruam do direito de serem elevados aos altares, como acreditamos, pia e inocentemente, que temos dúzias deles à nossa disposição!
Basta um exemplo (altamente esclarecedor): só Coimbra considera "seus" os seguintes "santos":
1) S. Teotónio
2) Rainha Santa Isabel
3) 1/3 de Santo António (em partilhas com Lisboa e Pádua)
4) S. Paio de Coimbra
5) Santa Comba de Coimbra
6) Santas Teresa, Sancha e Mafalda
7) Os Mártires de Marrocos - que são logo 6!
Portanto, conto 13 1/3! Quase o dobro (a acreditar nas noticias) dos santos que pertencem a todo o país.
"Há muitos beatos à mistura", dirão.
Eu sei que sim.
Mas o que será melhor? Deixarmos os portugueses permanecerem na doce ilusão de viverem rodeados de santos seus conterrâneos? Ou confrontá-los com a sua pobreza (também) neste domínio?
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