Friday, May 11, 2012

Vidas apartadas

Soube, há muito pouco tempo e quase por acidente, da separação de uma conhecida minha e do seu companheiro de longa data. Para não variar - já se sabe que eu sou a cabeça mais despistada nessas matérias, e que nunca percebo quando os relacionamentos dos que me rodeiam terminam, hibernam, começam, alternam (pelo que passo o tempo a surpreender-me, e a dar respostas do génere "A sério? Imagina que não me tinha apercebido de nada!") - tudo me tinha passado ao lado (na verdade, também não falamos de pessoas que eu acompanhe muito proximamente).
Mais: eu achava que o par em causa formava, digamo-lo de uma forma um tanto ou quanto oitocentista, um "casal perfeito"!
Eram os dois da minha zona da cidade, tinham feito o seu percurso escolar "normal" e muito bem sucedido, ambos tinham encontrado bons empregos e viviam com conforto. Namoravam (isso eu já achava um pouco menos comum, mas acreditava piamente que todas as regras têm a sua excepção, e que era possível que eles tivessem tido a sorte(?) de ter encontrado o "match" certo cedo) há 749 anos (isto é, basicamente desde o 10º ano), e tinham já uma criança. Ou seja, eram - ou melhor, pareciam ser - o que se diz ser "perfeitos um para o outro". Em tudo compatíveis.

No entanto, não funcionou. Pior: aparentemente, já não funcionava bem há algum tempo. E, para não variar, o "cego" do Luís ficou espantadíssimo.

Nestas alturas, está claro, todos alvitram, e todos têm o seu alvitre pelo mais acertado, e o seu juízo o mais bem fundamentado. Vários consideram que um namoro excessivamente longo pode impedir-nos de abrir portas. Outros, advogam que, por vezes, somos tentados a manter - por razões tão diferentes como comodismo, pressão social (o achar-se que se é um "casal perfeito", como eu achava, não deixa de ser uma forma de pressão), ou mesmo por uma das partes gostar mais da outra do que vice-versa - as relações mesmo quando já sabemos que elas não são tão motivantes quanto gostaríamos (e, acrescento, quanto devem ser).

Não ponho em causa estes considerandos... mas penso noutro reflexo desta questão. Será que o problema é os dois serem "demasiado perfeitos" um para o outro? Assentará o busílis no facto de ambos formarem demasiado bem e demasiado facilmente um "casal ideal"? Pois... será que isso "mata" aquele extra de qualquer boa relação que é a contraparte ser - mais do que adequada ao que procuramos (isso é básico, certo?...) - um permanente desafio? O ter pontos fortes de contacto connosco mas, em simultâneo, manter diferenças que, a nossos olhos, tornam o outro (ainda) mais interessante e fascinante? O ter qualidades e talentos que não temos - e que podem ou não ser complementares dos nossos interesses - e que isso nos faça, por um lado, ter imenso orgulho nas capacidades daquela pessoa, e, por outro, pôr as nossas a render ao máximo, para mostrarmos constantemente o nosso valor?
Pensando mais do que dois minutos sobre o assunto (eu disse que a notícia me tinha apanhado desprevenido!), acabo por quase concluir que as relações mais duradouras e felizes que conheço (eu, que acredito piamente na felicidade constante de uma looooonga relação) são, na verdade, entre pessoas que, não obstante partilharem de afinidades essenciais, têm vários pontos em que divergem, bem como vários interesses que, aparentemente, não se coadunam facilmente.

Se calhar, os casais "ideais" são esses, e não aqueles que, parecendo tão terrivelmente o espelho um do outro, acabam por se perder nas águas paradas dessa mesma compatibilidade.

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