Monday, May 07, 2012

As festas da Judith

Foi com surpresa que li, na última edição da revista do Expresso, uma breve - daquelas meio "coloreadas" - que dava conta de "A mais recente tendência dos encontros rápidos para encontrar parceiro são as chamadas festas das feromonas". E como se a coisa não fosse já suficientemente estranha, acrescenta-se que "nas quais (ditas festas) se tenta encontrar o par ideal cheirando as suas roupas" (!!).
A ideia - no mínimo, peregrina - terá derivado da mente de uma norte americana de 25 anos chamada Judith Prays. Ora, sustenta a Judith (que creio não dever ser muito bem sucedida no que a relacionamentos diz respeito) que tudo isto tem uma base científica ("A tese é a de que, sendo as feromonas substâncias químicas segregadas pelo corpo humano que interferem no estímulo sexual, nada melhor do que o cheiro para encontrar par") e empírica - baseada na sua experiência pessoal , explicando que "a primeira vez que saiu com alguém por razões puramente físicas" (!! prefiro não comentar...) o fez com uma pessoa cujo odor a inebriou. Terá sido, no mínimo, uma experiência agridoce, pois, segundo a mentora deste novo movimento, o odor de tal companheiro "excitava-me, mesmo sendo objetivamente repulsivo". Enfim, valeu-lhe certamente o ter sido uma "saída puramente física"!
Bom, o certo é que Judith - talvez por saber que a melhor forma de ultrapassar um trauma é banalizando-o - começou a promover meetings onde, em vez de interesses comuns ou mesmo da clássica empatia , se privilegia, acima de tudo, a compatibilidade de odores.
Mas... como fazê-lo? Como poderemos nós embalar os nossos odores de forma a descobrir os matches mais adequados? Pavoneando-nos depois de uma partida de ténis? Ficando uma semana sem dormir? Judith, alma inspirada, descobriu a solução. E passo a citar novamente:

Eis a receita:
"Comprar uma camisa de algodão, e dormir três dias seguidos com ela, para que fique bem impregnada do cheiro do utilizador. Levá-la (para a pheronome party a que se deseja ir) num saco de plástico hermeticamente fechado (cor de rosa se for mulher, azul se for homem)".

Depois: os sacos são numerados, e estão prontos para ser cheirados por quem bem o quiser fazer. Se, após muitas snifadelas, encontrar um cheiro que lhe parece interessante (ou terá de ser excitante, mesmo sendo objetivamente repulsivo, como o do amigo da Judith?.... confesso que fiquei sem ter certezas...), basta avançar, destemido, para o dono/dona da camisa. Mesmo que seja um ogre, nada tema! As feromonas compatíveis garantir-lhe-ão pelo menos uma noite em que pode sair com o ogre "por razões puramente físicas".

Confesso, sinceramente, que já há muito não lia uma coisa tão deprimente! Há, realmente, gente muito desesperada mundo fora, para, de forma intencional e premeditada, andar a cheirar roupa suja de estranhos! E a seguir dicas de uma desmiolada como Judith Prays!
Confesso, também, que até sou um rapaz que se guia muito por cheiros, e para quem muito depende também do mundo dos odores. Existem os que inebriam por completo, e os que repelem absolutamente, mesmo que exalados por seres fascinantes sob outros prismas... E não, tal não acontece apenas quando estou com as minhas cíclicas e chatas enxaquecas, que me transformam num perdigueiro de olfacto tremendo! Já houve cheiros que me conquistaram, e creio que assim continuará a acontecer. Mas jamais, jamais mesmo!, me passaria pela cabeça de pedir a alguém em quem tivesse um mínimo de interesse "olha, vai ao cesto da roupa suja, arranja uma camisa que esteja lá bem no fundo, e dá-ma cá, para eu lhe dar uma boa cheiradela. Sem isso, nada feito". Se assim fosse, em vez de somente o olfacto de perdigueiro, todo o meu comportamento seria verdadeiramente... canino!




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