Monday, October 13, 2008

Regresso às aulas

Pois é, o ano lectivo já começou (há umas semanas ), acarretando consigo toda uma série de - mais ou menos agradáveis, mas todas tendencialmente simpáticas - rotinas quer a alunos, quer a professores. E, uma vez mais, este semestre dedico-me a explicar a uma trintena de almas, provindas dos quatro cantos do país (regiões autónomas incluídas) e, ainda, de paragens lusófonas, os rudimentos sobre como se administra a coisa pública. Tema interessante, sobretudo agora que o processo bolonhês impõe, sob o véu da interactividade no espaço lectivo, uma outra exigência de participação efectiva aos discentes. O meu "lote" (lote de eleição, já se sabe, não fora meu!;)) tem de se esfalfar a valer, mas - pelo menos na óptica do Prof (o que, claro está, traduz uma visão muito parcial da questão) - os rapazes e raparigas que o integram fazem-no com um mínimo de interesse e prazer.
Dia de aulas implica almoço no espaço onde se ensina. E eu
1) quer por ser um tanto Mathias
2) quer por ser um professor a tempo parcial parcial (logo, auferindo rendimentos parciais)
3) quer por ser mais rápido e mais simpático
costumo almoçar no bar, e não no (impecável, diga-se de passagem) restaurante reservado aos docentes.
Quem me conhece sabe que, em termos culinários, sou de uma monotonia que chega a enjoar. Se gosto de algo, não me importo absolutamente nada em almoçar sempre o mesmo todas as 2ºas. E, obviamente, é o que aqui faço.
Hoje, quando, de bandeja em punho e sandocha em riste (agradecendo à senhora o ter-ma cortado ao meio, a fim de facilitar o seu manuseamento), após ter pago o meu almoço, me preparava para dirigir para a mesa, a funcionária, pressurosa, logo chamou: "Ouve, olha lá, tens de levar o talão, desde logo para mostrar à tua mãe que almoçaste".

Que fazer?

Era obvio que a senhora não se apercebera (e já ando por cá há anos!) de que lado da barricada eu estava. Pois... eu sou prof. Mas valia a pena dizer qualquer coisa, fazer um qualquer reparo? Não seria enxovalhar, mesmo que não fosse essa a intenção, a pobre funcionária, que é sempre tão atenta, e que só quis, à sua maneira, ser simpática? E, de qualquer forma, acredito piamente que a minha Mãe (e qualquer pessoa que me conheça minimamente) tem a certeza absoluta - mesmo quando nisso tinha algum interesse (ou seja, quando ainda não tinha dado o salto sobre a dita paliçada) - que eu jamais deixaria de almoçar, por que motivo fosse!;)

Deixei, pois, que tudo fosse fluindo com normalidade, e lá pus o talão no bolso. Se a minha progenitora, por algum estranho motivo, quiser certificar-se do almoço que ingeri, disponho de uma prova irrefutável de como optei por um rissol de camarão, um sandes de atum e uma pepsi.

Findo o almoço, importa cafézar. Dirigi-me para o balcão da cafetaria, constatando que havia um funcionário novo. Este, ao ver-me dirigir-me para o seu posto de trabalho, começou a estalar os dedos enquanto perguntava, de forma um tanto insolente, "Então, então... café, café?".
Bom, mais um que me via como estudante. Mas neste caso, a situação não era tão simpática como a que 15 minutos antes tivera lugar.
Ainda voltei a pensar dizer: pois, eu sou prof...

Mas valeria a pena? O problema será ele tratar dessa forma os professores, ou qualquer pessoa que aqui trabalhe?

1 Comments:

At 5:56 AM, Blogger RR said...

No primeiro ano em que dei aulas, tinha praticamente a idade dos meus alunos. Uma vez abordei um contínuo para lhe pedir folhas de ponto e ele ignorou-me, continuando a discussão de algibeira que tinha com uma comparsa. Quando a senhora o admoestou por não estar a dar-me a devida atenção, a exclamação desarmante do homem foi: "peço desculpa, sôdôtôra! Ainda não tinha reparado que a sôdôtôra era uma sôdôtôra!" :)

 

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