e o (ex) Procurador veio ao Pio
Fiel às suas - louváveis! - tradições de procurar trazer a "principalidade" local para palestrar nos salões domésticos, e após (há um par de semanas) termos contado com a presença de Rosário Carneiro, o PIO recebeu, hoje (até há pouco) a visita e a palestra de Souto Moura. O orador - recebido com a pompa e circunstância possíveis, entre as velhas telas setecentistas da "sala de conferências oficial" do primeiro andar (portanto, era observado bem de perto por uma Madalena arrependida de olhos em alvo - embora, a bem da verdade, preferisse fitar, em detrimento da casta nudez daquela, ainda mais devido à sujidade dos séculos e à má qualidade dos repintes, os tons mais quentes de uma larga natividade) - foi recebido de forma calorosa mas (confessemos...) um pouco atabalhoada. Isto sobretudo por não se saber ... como o tratar. A autoridade eclesiástica presente (sim, aquela com que partilhamos um apelido), para além de não ter feito correctamente o "trabalho de casa" (convinha ler, pelo menos uma vez, o curriculo do homem antes de começar a falar!) hesitou bastante naquele ponto... e, na sua senda, diversos foram os que tremeram ante a forma de tratamento a adoptar. Achou-se que "Sr. Dr." soava a pouco. Mas, por outro lado, o homem não é Conselheiro... e Sr. Procurador podia resultar não só ofensivo, como descabido, e, mesmo, ridículo. Por isso, ficcionou-se (uma solução possível, fracota, mas enfim...) um "Sr. Professor", que garantia ao palestrante a importância que um ex-PGR e, sobretudo, um convidado do Pio deve ter!;)
A sala estava composta, havendo pouquíssimos lugares vagos (talvez só a primeira fila, na qual nunca ninguém se senta, para desespero das esferas dirigentes).
Souto Mouta falou, e começou mal, muito mal. Não querendo cair numa exposição exclusivamente jurídica, enveredou por umas considerações pseudo-filosóficas (o que é a liberdade? como a articular com a política, o direito e a sociedade?) altamente secantes - e cremos bem que, a dada altura, já ninguém do auditório seguia aquele exercício de oratória tão estéril quanto monótono. Souto - e bem - percebeu, e adiantou a sua exposição, aligeirando-a com um toque burlesco de vez em quando. Vendo estas tentativas, a audiência, generosa, deu-lhe uma derradeira hipótese.
Seguiu-se o debate, que foi francamente mais interessante. Com a excepção de uma pergunta bizarra (alguém a terá percebido??) de um louco qualquer que estava sentado na 2ª fila (mau sinal...) e que, durante a exposição, parecia estar afectado de parkinson por tanto acenar aquela cabeça (decerto cheia de vento, a avaliar pelo quilate da sua questão, extraordinária na sua nulidade), houve uma troca curiosa de impressões. Souto esteve mais à vontade, falou com mais graça e leveza e, sobretudo, soube guiar melhor as suas intervenções. Desnecessárias foram, contudo, as constantes referências a filósofos, de Kant a Habermas e Savater, com que gosta de ilustrar o seu discurso (sem que percebamos a razão para tal procedimento).
O resultado final, apesar de todos os óbices, foi positivo... mas aqui fica a nota: quando forem a uma conferência de Souto Moura, levem o moleskine para rabiscar... até à parte do debate, o homem não consegue entusiasmar ninguém!
1 Comments:
Os leitores dos Prazos protestam contra a falta de novos posts!!
Caro editor,alimente a fome bolguiana dos seus fãs!!
Bj
Joana de Nelas, de Tamengos, de Lisboa e daqui e dali!
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